Vik Muniz

Artista plástico brasileiro, Vicente José Muniz, ou Vik Muniz, como é conhecido, nasceu em 1961, em São Paulo, e estudou publicidade na mesma cidade. Em 1983, ao separar dois homens que lutavam, levou um tiro do homem que tentava ajudar. A bala rasgou uma artéria femoral e Muniz teve de ser hospitalizado. No dia seguinte o homem que o baleou foi ao hospital e como compensação ofereceu-lhe dinheiro. Vik aceitou e foi com esse dinheiro que se mudou para os Estados Unidos. Viveu durante um ano em Chicago e no ano seguinte (1984) mudou-se para Nova Iorque. Entre o variadíssimo leque de trabalhos que Muniz arranjou para sobreviver um deles mudou radicalmente a sua vida: o de moldureiro. Ao reparar nos valores dos quadros que emoldurava e que considerava de má qualidade, decidiu que podia fazer melhor. E fez. Paralelamente às pinturas kitsch que fazia para ganhar algum dinheiro, começou a fazer esculturas, estranhas e incomuns. Foram essas esculturas que lhe abriram as portas do circuito de arte nova-iorquino. Fotografá-las para poder mostrá-las a possíveis interessados levou-o à fotografia. Basicamente, foi este o percurso do artista.
Desde a sua mudança para Nova Iorque e o estabelecimento de um estúdio em Brooklyn, Vik Muniz desenvolveu uma obra que tem como objetivo reanimar o aturdimento visual e crítico do espectador, dirigindo a sua atenção para os mecanismos técnicos e conceptuais que estão por detrás da produção, construção e reprodução de imagens. Para tal, o artista concentrou-se em dois elementos-chave: o reconhecimento, mediante a utilização de imagens familiares que o espectador possa identificar instantaneamente, e a inovação ou surpresa, reconstruindo essas imagens com o uso de materiais e técnicas que normalmente não se associam à produção artística mas a outras perceções emocionais e sensoriais. A maior parte do seu trabalho fotográfico pertence a séries às quais se dá o nome de "quadros". Um quadro pode ser qualquer coisa: pintura, desenho, fotografia. Na verdade, as fotografias de Muniz são quadros, são mais do que imagens fotográficas de cenas e objetos captados por uma câmara fotográfica. Empregando a fotografia apenas como um meio para sintetizar uma complexa seleção de ideias inter-relacionadas, considerações técnicas e inquietudes intelectuais, Muniz reuniu, às vezes numa só imagem, temas que questionam a complexidade da perceção visual, desde a história de arte, as técnicas criativas e documentação, a assuntos mais sociais e políticos.

 

                                    
Antes de mais Vik estabelece uma relação entre o desenho e a fotografia, entre a memória e o presente. Tomou como ponto de partida imagens célebres como, por exemplo, a de John Lennon em Manhattan. Desenha essas imagens de memória
como se todas as reproduções dessa imagem tivessem desaparecido e como se contássemos apenas com o talento e a memória de Vik para fazê-la renascer. Por vezes, ele interroga pessoas para completar o puzzle. Obviamente, a imagem foi congelada para sempre nos olhos do público: seja o nome da cidade onde seria assassinado ou os óculos escuros de star. No entanto, o desenho não é o produto final de Vik. Então, ele fotografa o desenho e desenvolve-o sobre um papel que possa dar a mesma granulação que uma radiografia. Todos esses clichés são provenientes da seleção das melhores fotos produzidas pela revista Life, primeiro livro que Vik comprou nos Estados Unidos assim que chegou, quando ainda possuía um conhecimento rudimentar do inglês. A série O melhor da Life, realizada entre 1988 e 1990, remete então à recaptura de um momento em que se sentia exilado, perdido e isolado.
Podendo partir da cópia de uma obra de arte ou de uma fotografia, minuciosamente, com competência, Vik Muniz fá-lo de uma forma única. Fotografias reproduzidas com açúcar ou com detritos de lixo, ou uma Santa Ceia recriada com chocolate líquido implicam um alto teor de criatividade. Na série elaborada com chocolate líquido, por exemplo, sabe-se que Vik reconstruiu essas imagens através de um conta-gotas, com uma infinita dose de paciência, e esse procedimento continuou ao fotografar rapidamente a imagem fixada em Cibachrome. O processo do artista, decididamente maneirista, surpreende tanto pela similitude com a imagem original como pelo frescor do brilho reluzente da deliciosa coloração do chocolate que aflora nesses trabalhos.
Vik Muniz não cultiva a cópia como uma simples nova leitura ou captação de um processo apenas para a obtenção da composição de uma imagem. Ele não está interessado apenas em cópias perfeitas, pastiches de obras reconhecidas ou de fotos famosas. O que se percebe é que, a partir de uma imagem - a partir de uma representação - na solidão da paciente elaboração de seus trabalhos, ocorre uma positiva diversidade na opção de meios para as suas "matrizes" - papéis perfurados, algodão, chocolate líquido, açúcar, lixo, arame, pó, serradura, geleia, alfinetes. O êxito que tem rodeado as suas apresentações é também um desafio, pelo excesso de assédio do mercado e das instituições.
Desde 1988, integra o circuito internacional de arte, participando em grande número de exposições coletivas, entre elas: 24.a Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal, 1998; 1st Liverpool Biennial of Contemporary Art, na Tate Gallery, Liverpool, Inglaterra, 1999; Museum as Muse: Artists reflect, no MoMA, Nova Iorque, 1999; 49.a Bienal de Veneza, no Palazzo Fortuny e Giardini, 2001. Entre as exposições individuais destacam-se: Beyond the Edges, no Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, 1999; The Things Themselves: Pictures of dust, no Whitney Museum of American Art, Nova Iorque, 2001; Ver para Crer, no MAM / São Paulo e no MAM / Rio de Janeiro, 2001.

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A obra de Vik Muniz questiona e tensiona os limites da representação. Apropriando-se de matérias-primas como algodão, açúcar, chocolate, e até lixo, o artista meticulosamente compõe imagens icônicas e lhes repropõe significações. O objeto final de sua produção mais conhecida atualmente é a fotografia, mas sua obra já transitou pelo tridimensional, pelo desenho e até pela escultura.